O governo atuou fortemente nos
bastidores pela aprovação da proposta. A ministra de Relações
Institucionais, Ideli Salvatti (PT), telefonou para parlamentares e
líderes cobrando a posição de partidos da base aliada. O Estado flagrou
um desses telefonemas.
O resultado praticamente inviabiliza a
candidatura da ex-ministra Marina Silva, que luta para formar seu novo
partido, o Rede Sustentabilidade. E também atrapalha as pretensões do
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), pois quem migrar de
legenda não poderá levar o tempo de TV.
Em minoria, os contrários à aprovação da
proposta que inibe a criação de partidos fizeram de tudo para impedir a
votação desde a noite de terça-feira. Com seguidas obstruções, eles
conseguiram adiar a votação por quase 24 horas, mas sucumbiram diante
da força dos partidos do governo, que contaram ainda com a ajuda do
DEM. O projeto aprovado é de autoria do deputado Edinho Araújo
(PMDB-SP).
Para o presidente do PSDB de Minas
Gerais, deputado Marcus Pestana, a aprovação do projeto foi “o Pacote
de Abril do governo Dilma” – referência a um ato do ex-presidente
Ernesto Geisel (1974-1979) que fechou o Congresso e baixou um pacote de
medidas casuísticas em 1977. “A Justiça vai derrubar esse projeto,
porque nessa legislatura o TSE estabeleceu que valem os direitos ao
Fundo Partidário e ao tempo de TV. A história do PT está sendo
definitivamente derrotada”, bradou o líder do MD (Mobilização
Democrática), Rubens Bueno (PR).
O deputado Raul Henry (PMDB-PE) comparou
o governo a figuras autoritárias do passado. “A pressão pode ser
comparada à forma como agiam os defensores do nazismo de Hitler e do
fascismo de Mussolini.” O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) definiu a
manobra como “um casuísmo abjeto e safado para prejudicar Marina”. O
líder do PT, deputado José Guimarães (CE), rebateu: “Não estamos aqui
orientados pelo Palácio do Planalto, mas por nossa história em defesa
da democracia.”
‘Rolo compressor’
Pré-candidato tucano à
Presidência da República, o senador Aécio Neves (MG) acusou o governo
de patrocinar o projeto de lei. “O governo federal, quando lhe
interessa criar partidos, estimula e dá instrumento, mas quando acha
que pode prejudicá-lo age com rolo compressor. Isso não é saudável para
a democracia, não é um exemplo que o governo do PT mais uma vez dá. A
presença de outras candidaturas eleva o debate e numa democracia como o
Brasil ninguém pode querer ganhar uma eleição no W.O.”, disse Aécio,
recorrendo à linguagem usada no futebol para atribuir a vitória a um
time quando o outro não disputa o jogo.
Os presidenciáveis reagem em coro contra
a aprovação da proposta porque, pelo atual cenário político, quanto
mais candidaturas houver em 2014 maiores são os riscos de a presidente
Dilma ter de disputar um segundo turno. Hoje, a petista desfruta de
aprovação recorde nas pesquisas e venceria no primeiro.
Aécio fez as críticas à atuação do
governo nos bastidores para garantir a aprovação do projeto de lei após
participar de evento do DEM que catalogou as promessas de campanha da
então candidata Dilma Rousseff. O senador mineiro defendeu a
pluralidade de candidaturas para 2014, fazendo elogios a Campos e a
Marina. “Vejo a presidente assustada com o processo eleitoral. Ela age
em 2013 como se estivesse em 2014″, criticou o tucano, que vai assumir a
presidência do PSDB no mês que vem. Para Marina, o projeto “é o tiro
de misericórdia nos que pensam diferente do governo do PT”. / COLABOROU JULIA DUAILIBI
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