Duas placas, uma apontando a concessão
de incentivos fiscais do Ministério da Integração Nacional, e outra,
com o nome da empresa UPA – Umbuzeiro Produções Agrícolas Ltda., marcam
a entrada da fazenda de propriedade de Caio Coelho, irmão do ministro
Fernando Bezerra Coelho, no Perímetro de Irrigação Nilo Coelho. O
principal aspecto na cena, no entanto, é o canal exclusivo de irrigação
que serve a fazenda, com a entrada protegida pelo porteiro Valberto
Silva.
“Nenhum canal é exclusivo de uma
propriedade, mas neste trecho do perímetro de irrigação só tem ela”,
explica Paulo Sales, gerente do Distrito de Irrigação Nilo Coelho,
empresa privada sem fins lucrativos que administra a área. “O canal
secundário faz parte do projeto, foi sorte ele ter comprado aquela
área”, completa Sales.
Além do canal exclusivo, a propriedade
da UPA guarda uma das 39 estações de bombeamento de água do Nilo
Coelho. Mas isso não representa nenhum tipo de vantagem, alega Caio
Coelho, por escrito. “A UPA Agrícola apenas utiliza e paga pela água
necessária à irrigação do seu plantio.”
A irrigação do Vale do Rio São Francisco
é, para Caio, “sem a menor dúvida, o melhor investimento público nos
últimos anos no Brasil”. O investimento é comandado pela Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf),
presidida interinamente pelo irmão Clementino Coelho até 12 dias atrás,
e subordinada desde o ano passado a outro irmão, o ministro.
A UPA começou a funcionar um ano depois
do início de operação do Perímetro Nilo Coelho, segundo documentos da
Junta Comercial. Na eleição de 2010, a empresa de produção de mangas
doou R$ 100 mil para a campanha de deputado de Fernando Coelho Filho,
sobrinho de Caio e filho do ministro da Integração. Outra empresa
registrada no nome de Caio, a Transportadora Grande Rio, doou mais R$
80 mil. Caio Coelho conta o início da produção de mangas para
exportação no perímetro Nilo Coelho em 1996. A área de produção
irrigada é de 2,2 quilômetros quadrados ou 220 hectares. O empresário
diz que o custo de produção é de R$ 15 mil por hectare a cada mês, e
que o gasto com água representa 10% desse valor.
Desigualdade. Para os pequenos
produtores do Nilo Coelho, a conta é pesada. Os irmãos Jonas e Juvenal
Idelfonso de Souza chegam a pagar até R$ 1.200 pela água consumida do
cultivo de acerola, comprada por uma empresa japonesa para exportação
de polpa ou concentrado da fruta, insumo na fabricação de vitamina C.
“A maioria dos pequenos está aqui para viver, a gente paga mesmo quando
chove, e a conta bancária está no vermelho há três anos”, conta Jonas,
há 26 anos no Nilo Coelho. “Não é essa boniteza toda que mostram”,
completa ele. Na contabilidade de Caio Coelho, o custo de produção só é
viável quando a produtividade é “alta”.
Fonte: Blog Elba Galindo
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